Como transformar a escola num espaço de maior relacionamento e livre expressão?


As irmãs Andressa e Patrícia Novais aprenderam a dirigir a escola fundada pela família. Agora, com um olhar sobre o futuro da educação, elas têm um projeto para estimular os alunos a gostarem desse ambiente e descobrir, na prática, a importância do relacionamento

O ambiente escolar é marcante na vida de qualquer criança e adolescente. Mas, no caso das irmãs Andressa e Patrícia Novais, a escola era muito mais do que isso. Os diretores do Colégio Interação Modelo, onde estudavam, eram seus próprios pais – e o dia a dia no colégio, para elas, era praticamente uma extensão da rotina familiar.

Mesmo na adolescência, a ideia de participar desse projeto familiar já era muito presente na cabeça das irmãs. Elas ajudavam em diferentes áreas, do financeiro às salas de aula, passando pela preparação dos eventos, sempre observando como os pais e a equipe dirigiam a instituição. "Eu já ajudava minha mãe na escola desde os 11 anos", conta Andressa, a irmã mais velha, que hoje tem 28 anos.  

Mas isso não significa que o caminho foi natural e sem obstáculos, principalmente para Andressa. Ela nunca teve grandes problemas disciplinares, ou dificuldade em passar de ano. Mesmo assim, quando estava na escola, torcia para que acabasse logo. "Para mim, não fazia sentido o que eu estava estudando. Não sabia para quê usaria aquilo tudo."

Seis anos mais nova, Pati passou a adolescência na escola quando sua irmã já havia se formado. Ao contrário de Andressa, ela gostou muito dos anos no colégio. Adorava o relacionamento com os amigos, os eventos e as experiências. "Acho que passaria por tudo aquilo de novo sem nenhum problema", diz ela.

Apesar dessa percepção diferente sobre a passagem pela escola, Pati concordava com a irmã mais velha sobre um ponto: a experiência no colégio, de fato, poderia ser muito mais interessante. "Nós conversávamos sobre essas novas possibilidades de aulas para os alunos desde que eu tinha 13 anos, e a Andressa tinha 19", conta.

Como deixar a escola mais legal?

A irmã mais velha nunca se conformou com as amarras do ensino tradicional e sempre quis fazer algo para mudar isso. A principal ferramenta – a própria escola – ela já tinha. Por isso, Andressa se preparou para atuar no Colégio Interação Modelo de uma maneira que o levasse a um lugar mais inovador. "Amadureci e vi a importância do trabalho que é feito na escola. Decidi que, como iria trabalhar nisso, faria de uma forma que eu acreditasse."

Quando Pati se formou, ela se aliou à irmã na meta de renovar a escola. Aos poucos, elas também conquistaram cada vez mais a confiança dos pais, que as deixaram assumir mais responsabilidades dentro da instituição.

Com a aquisição de um novo prédio em frente ao colégio, Andressa e Pati perceberam que poderiam finalmente consolidar um projeto de aulas extracurriculares, que ajudaria a transformar a escola em uma experiência mais legal para os alunos. Mas quando elas sentaram para conversar sobre as ideias que tinham sobre aquele projeto, a falta de alinhamento entre as duas ficou evidente.

"A gente começou a brigar, na verdade. Virou a minha opinião contra a dela", resume Andressa. As duas, que sempre foram muito parceiras em várias atividades, sabiam que não era isso que elas queriam.

O que os alunos precisam?

Nesse mesmo período, Andressa conheceu o processo de Clareamento de Propósito e percebeu que ele poderia ser a ferramenta perfeita para ajudar a descobrir o melhor formato para esse projeto que elas levariam ao Colégio Interação Modelo. Mas a maior questão era: como elas fariam isso juntas?

A partir dessa pergunta, surgiu a ideia de que ela convidasse a Pati para fazer o Clareamento de Propósito. E como o processo de clareamento de uma estava diretamente ligado ao da outra, por que não passar por essa etapa juntas? Era uma chance de sair dali realmente alinhadas.

As duas toparam o processo e ainda ganharam uma ajuda inesperada. "Quando meus pais souberam que a gente passaria por um processo que tornaria mais claro o nosso propósito, eles não só apoiaram como ainda quiseram oferecer para a gente, como um presente. Isso foi muito importante", diz Andressa.

Esse projeto de aulas extracurriculares começou a ganhar forma e se transformou no Clubin, um espaço que será construído nesse novo prédio da escola e oferecerá às crianças e adolescentes atividades artísticas, esportivas e workshops de todo tipo. "Basicamente, são aulas que não dão para ter no horário normal da escola, pois há um currículo que precisamos cumprir, por lei", explica Andressa.

Mas o intuito não se resume ao aprendizado dessas habilidades. Na verdade, o Clubin será apenas um cenário para favorecer que os alunos desenvolvam um maior relacionamento entre si. "No fundo, é isso que eles querem. Só não aprenderam como fazer, porque a escola nunca foi um espaço muito aberto para eles se relacionarem", afirma Andressa.

"A ideia é que eles possam se expressar. E que se tornem autônomos e livres em suas escolhas. Por isso, pensamos até num formato onde os próprios alunos sejam os monitores do Clubin e que a gente não tenha essa hierarquia de coordenador, auxiliar, essas coisas, na medida do possível", conta Pati.

Além de beneficiar os estudantes do colégio, as irmãs pretendem oferecer o Clubin para crianças e adolescentes da comunidade local. Outra ideia, ainda em desenvolvimento, é de firmar parcerias com outras escolas para o uso do espaço. "Nós sabemos o quanto as escolas precisam focar no pedagógico e não têm condição de pensar em outras possibilidades. Elas querem ser mais legais, e o Clubin pode ajudar nisso", diz Andressa.

Aprender a se relacionar e levar isso ao mundo

O grande aprendizado das irmãs ao passar pelo Clareamento de Propósito e desenvolver o projeto do Clubin foi descobrir que elas conseguem, sim, trabalhar juntas em função da mesma meta, e o quanto o relacionamento entre as duas é fundamental para que isso se potencialize.

"Logo no primeiro encontro do framework, tudo ficou mais claro na nossa mente. Antes, a gente estava olhando de um lugar muito individual. Hoje, quando nós temos uma ideia, a gente se pergunta, antes, se é uma ideia que queremos defender ou se é algo que o Clubin precisa", diz a irmã mais nova.

"O Clear Purpose Framework foi importantíssimo na nossa jornada com o Clubin, mas também para o nosso relacionamento. A gente desenvolveu muito a nossa relação profissional", diz Andressa. "E percebemos que o caminho de pensar nas pessoas é muito melhor do que ficar pensando só na gente."

Com uma visão mais clara sobre o que é o relacionamento, elas esperam que esse empreendimento forme alunos que não tenham medo de se relacionar – e que levem isso para o mundo.

"Se os alunos entregarem isso nas empresas que eles vierem a trabalhar, por exemplo, vai facilitar muito as atividades em equipe. Se eles tiverem menos medo de se expressarem livremente e fortalecerem uma filosofia voltada ao relacionamento, à empatia, ao respeito e ao cuidado, isso vai mudar qualquer ambiente. É o que o mundo precisa", resume Pati.

Related posts